sábado, 6 de dezembro de 2008

Cegueira - fernando meirelles


Faz alguns dias, talvez semanas, assisti ao filme "CEGUEIRA", adaptado do livro de José Saramago "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA". É dificil escrever sobre uma adaptação de um livro de altissima linha tão bem solucionada. A qualidade do livro teve se não total, mais primor ainda na tradução para as telas, tratando com suavidade e também agressividade o tema das páginas -cegueira- nas retinas dos espectadores de cinema. Contando a história de epidemia de cegueira, usando a imagem como fator incorporado ao texto do livro e extraíndo e esculpindo como se fosse um mármore branco, o branco da cegueira, deixando em suspense o resultado final da peça esculpida, fazendo da história uma probabilidade real dos fatos ocorridos em um caso semelhante na vida real, fazendo com que quem assisti e realmente ve, perceber que usa a visão de uma maneira simplesmente medíocre, já que a visão também se faz do que não se ve. Os personagens, o enredo que o escritor desenvolve são complexos e inteligentes, aparecem os "tipos" de pessoas que convivem em qualquer cidade do mundo, numa situação de inimagináveis consequências, porém pensadas e imaginadas na linha de raciocínio do escritor como se fosse a narração de um fato já acontecido e verdadeiro. Não comentarei diretamente sobre a história do filme, penso que é uma ofensa ao descrever um roteiro tão inteligente com palavras rápidas e vadias. Porém digo que, o diretor brasileiro Fernando Meirelles poderia ser considerado como um tradutor do idioma do imaginário das letras e palavras do autor nos seus entremeios de idéias: imagens produzidas justamente como se fossem as imagens captadas de uma lente impessoal abstraida das sequências e linhas da história e seu tema. Assim me parece que deixo as tentativas de definição do que vi e li, para abrir o espaço do invisivel ou não escrito, sendo cego nas letras que descrevo, porque nelas não está o que quero transmitir, e sim no click da cabeça de outro alguém. fazendo da conclusão observada no filme e livro a ultima frase : _______________________________________



Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Sandra Oh e Gael García,

Direção: Fernando Meirelles
Apenas poucos momentos depois de cair em merecido sono, pois após dia
entre trabalho e eteceteras, o corpo distrai entretanto a mente não para. Nesse
sonho que aparece em continuidade do desperto, observava por lentes-olhos
a minha própria idade de criança, enquanto uma serena tarde das algumas que tive passava. O relato tem seu tema idéia que levava, na gota relacionada ao brinquedo - um desses jogos com objetos submergidos em água, fazendo movimentos aquosos -que era a principal atenção e que relacionava o ínicio da linha-pensamento.
Em certo ponto da distração, muito vívida apesar de sonhada, o brinquedo era
deixado de lado e tomava foco a gota que ele deixava por onde passava; sem
ter intenção filosófica ou metafísica pensava nas possibilidades que tinha a gota aflorada no chão de ladrilhos de madeira,
em possuir adentro novas gotas, abrigando assim pequenos universos adentro, e
nesses universos talvez existissem vidas parecidas com as nossas, talvez inversamente
proporcionais ao reflexo que faz a água ao espelhar a imagem, talvez simplestmente
diferentes e incompreensíveis para nossos olhos. A escala de gotas e suas subdivisões
era infinita na idéia concebida, derepente as realidades se confundiam, entre a atmosfera
ar e água se fazia invisível a distinção, fronteira ou divisa eram fatores impossíveis.
De dentro dessas atmosferas imaginativas aprendia, enquanto criança sonhadora ou
adulto acordado em sonho, como podem algumas das vias de possibilidades dos caminhos que os palácios flutuantes inventam existirem, mesmo na cabeça fértil de uma criança ou no sonho de um adulto. A tarde corria sem que ponteiros pudessem marcar pontos de luz na terra, sem que houvesse tensão entre o vento e a alma, sem qualquer amostra de preocupação além da idéia de universos adentro de gotas d’água. Eram aquosas as imagens desse sonho, apesar de que existam dúvidas se era realmente um sonho ou não. Ele - o sonho – se confundia, similar à maneira como se confundiam as atmosferas ar e água, com as tardes vivídas na rua de árvores dos sinamomos na qual residia nessa época. O sol que penetrava na janela era entreposto pelas sombras das barras de ferro de segurança, ao fundo se espalhavam, no horizonte e em perspectiva iluminada pela luz já baixa do poente, a torre dos sinos da igreja, o telhado cinza da garagem e os poucos edifícios que confundiam-se com a vegetação ainda abundante nessa época. Dentro do quarto no qual dormia também meu irmão mais novo, a luz baixa e alaranjada iluminava os devaneios e os objetos, e apesar das percepções do ambiente ao redor, seguia submerso nos universos das gotas. O brinquedo já deixado de lado havia muito tempo, observava solitário uma criança observando gotas que se juntavam ou dividiam conforme distância sobre o chão, e na terceira pessoa impessoal eu via a situação um tanto curiosa desde o ponto de vista de um sonhador. Esse fato ocorrido é ausente de começo ou fim, somente flutua sobre a névoa da dúvida do que pode ou não ser considerado possível. Talvez esteve adormecido; agora evaporado, condensado chove sobre minhas mãos, pingando sobre teclas-letras como uma passageira nuvem chove sobre memórias sonhadas. Ou simplesmente goteja memórias de sonhos, molhando novo sonhador, adulto adormecido do imaginário infantil ou quase separado do sentimento de pensamento que engatinha.
O FATO É O ATO
DEPOIS DO ÉFE FORJADO
FEITO DE IR E VIR
FEITIO DE EFEMERIDADES
VAI VEM - ENTREATO
ESPETÁCULO CÉU-ABERTO
ATO FOGO-FÁTUO
(É)F(E)
E XPLICA DE FATO
O FATO DE O ATONUNCA ESTAR CONSUMADO

sábado, 1 de novembro de 2008

muitas vezes escrevo o gerundio nas pinturas que faço. Percebi que o ndo do gerundio é o que me interessa, a terminaçao constante em palavras que descrevem o verbo no seu acontecendo.


gerúndioge.rún.diosm (lat gerundiu) Gram Forma nominal do verbo, invariável, terminada em ndo, que exprime de ordinário uma circunstância, ou concorre para a formação de verbos freqüentativos com os auxiliares andar e estar, ou entra na conjugação dos verbos incoativos com os auxiliares ir e vir.

definiçoes de dicionarios a parte, para que nao perca a linha de raciocinio enquanto busco pela internet os significados, descrevendo vou indo em direçao ao provavel significado que imaginando estou- o ndo é o indo da palavra enquanto a ideia já esta. O ndo é o nada que compoe as variaveis do verbo, ao passo que flexiona o tempo. O ndo passa a definiçao do verbo enquanto vai acontecendo. O ndo é o que desejo quando escrevendo ou pintando, sem ser o gerundio como ele é, sim como pode ser.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

“O termo alemão utilizado
por Benjamin, e que é traduzido por experiência, é Erfahrung, que
provém de fahren (que, neste caso, significa principalmente ir,
atravessar, passar por, e não seus outros significados mais comuns
e mais atuais).
Uma Erfahrung é a memória de uma passagem, de
um atravessamento. Transmitir uma experiência implica ter algo
valioso a transmitir, alguma coisa cujo sentido às vezes não é desco-
berto de imediato por quem a recebe...”


WALTER BENJAMIN E AS NARRATIVAS. ALGUMAS CONSIDERAÇOES A PARTIR DE MACHADO DE ASSIS.
Oliveira, Bernardo

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Esse acontecido passou durante uma tarde de sol e frio no inverno gaúcho de 2008, na cidade de Porto Alegre: Ao centro indo de carona em móvel, carro que certa vez foi de boi em estrada de terra – hoje em dia carros, high-ways, combustíveis e combustão, entretantos outros mais. Quando dentro do carro me movia na inércia, depois as pernas e pés eram motores, e assim portanto cruzando as ruas movimentadas seguia eu caminhando. Me encontro na esquina onde o correio se situa, na tarefa de mandar um portfólio e outros papéis ao estado de Santa Catarina. Atravesso a contrução, chão, linhas horizontais dispostas lado a lado e repetidas vezes, cruzadas por linhas verticais em plano único: ladrilho, é ladrão, o roubo de atenção – mas aqui fazendo-se chão, fronteira, divisa. Sigo subindo degraus e escadas, passando pela transparente porta de vidro e no balcão adquiro ficha letrada e numerada: B365 é o código recebido correspondente ao envio de cartas, telegramas e outros tipos de mandados. De uma maneira estranha seu númeral encaixava com a letra, lembrando-me memória de fato ainda não acontecido - em função de maior detalhamento, faço um entre meio que diz; toda a paisagem daquele instante fazia lembrar algo de que se tinha saudades, porém esse “que” nunca havia sido visto por aqueles olhos antes: no erro de se dividir um dia do outro, perde-se na vida uma continuidade à qual conectava antes uma memória plural ao individuo... Me fixei em verificar os papéis que estavam por ser enviados, enquanto que, com os cantos dos olhos cuidava o painel que anunciava a ordem dos remetentes. A luz vermelha sobre o fundo preto piscava enquanto a campainha do painel sonava a chamada. Com a proximidade da vez, saquei a ficha do bolso afim de tê-la em mãos: quando enxerguei o código percebi que o número antes identificado com absoluta certeza não era o mesmo que havia tirado do bolso - admiro com assombro a impressão digital de tinta negra sobre papel amarelo: B362. Penso em como poderia isso ter acontecido, teria eu simplesmente visto um número que ali não estava? Meus sentidos me enganaram e enquanto novamente me dirigia à central das fichas pensava nisso. Ainda no caminho percebi: o engano da minha percepção havia sido proposital, uma jogada do inconsciente para driblar o rotineiro; a segunda intenção até então camuflada, sub-intuitiva, nesse ponto por mim foi absorvida. Chegando ao balcão central peguei outra ficha e comentei minha distração com a atendente; risadas, enquanto no imaginário se erguia o mapa da construção descritiva desses fatos algo ilógicos: agora os correios eram um mero cenário e a tarefa de enviar os documentos um motivo-acaso. A certeza era enganadora ao enxergar certo código errôneo, e consequentemente era esse engano a descoberta intuitiva de inconclusa conclusão: a criação de um paralelo onde as casualidades explicam todas as racionalidades. Nesse momento sentei nas confortáveis poltronas da espera, tirei da mochila caneta e caderno e me pus a descrever vagamente os fatos. Ouvindo abstrato som quando se está submerso no mar de letras, sopa de criança cheia de frases a serem devoradas, gosto de novo; cada palavra levava o peso e o tempo de lentos dias daqueles vazios ou rápidas horas daquelas percorridas pelas idéias que nos levam a tantos lugares sem sair de onde se está - por isso não se sabe uma definição exata do peso das palavras, são medidas mutantes pela sua natureza de intenção, entonação e descrição – enquanto isso, girando no ponteiro dos minutos iam umas voltas assim não muitas. Novamente o painel digital piscava códigos vermelhos sobre fundo preto, a campainha soava e entre os cantos dos olhos eu observava, já interado da nova ficha inscrita e da nova história descrita que ocupava mente e mãos. À medida que os números avançavam no painel desenvolvia as palavras, as sequências dos fatos, sobre a instância localizada nos confins do representar, formas delineadas decorrentes, uma linha-prosa representativa da imagem ia mirando ao longe a conclusão inconclusa – B376 o painel anuncia no guichê 17. O tempo contido entre a primeira chamada, ao mesmo errônea e certeira, e esta foi suficiente para que organizara pensamentos traduzidos pela esferográfica, como assim fossem a base metafórica e sútil, esqueleto feito de frases e articulações prosaicas e poéticas, o corpo pré-moldado do literário. Levantei-me e fui até o guichê anunciado, comentei novamente e intencionalmente o “ente” esquecimento com outro atendente, ele por sua vez me ignorou com expressão de indiferença: selo, cola, carimbo e pagamento; durante o trajeto, o imaginário persistia na construção fictícia do ato verdadeiramente controverso ao verso. Ao manualmente escrever o destinatário, em letras vermelhas e garrafais sobre envelope ocre, depositei-o na opção “outros estados” e vi o parágrafo derradeiro desse relato, como se o substantivo empregado para distintas regiões -estados- trouxera o adjetivo estado diferenciado peculiarmente no espírito: ao trocar um dois por um cinco, o inconsciente acha uma brecha e consegue desenvolver com um fato do acaso uma lógica, usando o consciente somente como ponte: a tradução do que é indescritível ganha mais uma versão.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

do outro lado


Nessa trama que surge em meio a fronteira de Hamburgo/ Alemanha com Istambul/Turquia - não vale a pena falar de como acontecem as cenas do filme - uma suposta narração dos fatos - o que vale é perceber que tantos fatos e sequências de ação/consequências são desenvolvidos e interligados por causa de um acaso em especial : um turco que vai à zona de Hamburgo e acaba encontrando uma prostituta da mesma nacionalidade, muçulmana, com à qual ocasiona manter uma relação mais que produto/consumidor . A trama acontece e as fronteiras se dissovem através das vidas e suas destinações; os personagens se cruzam e contracenam em buscas parecidas, motivos comuns que somente quem assiste percebe, vendo como as histórias se cruzam por razões banais e acham conclusões ou não por motivos mais banais ainda. As tomadas das imagens e suas situações são estéticamente falando a essência da trama, correspondem a surpresa das histórias causas e consequências.Vale à pena perceber as sutilidades dos acontecimentos dessa história, que acontece no meio de ideologias, patriotismos,romances e relações, e acasos e desacasos mais que tudo . esse filme eu considero um dos melhores atuais/lançamentos e esses dias estava conversando com um amigo que também viu - nos empolgamos falando - daí surgiu essa postagem . Outro acaso, talvez .
Fatih Akin
roteiro
Fatih Akin
fotografia
Rainer Klausmann